João Neutzling Jr.

Salário mínimo no Brasil

Por João Neutzling Jr.
Economista, mestre em Educação, auditor estadual, pesquisador e professor
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O salário mínimo foi criado no Brasil, no governo Vargas, por meio da Lei 185/1936. A Constituição atual, em seu art. 7º, V, informa ser direito do trabalhador: "salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim".

Mas o salário mínimo hoje está em R$ 1.302,00 (ou 250 dólares), valor incapaz de satisfazer às demandas mínimas de um trabalhador. Observando-se a tabela abaixo, vê-se como o Brasil paga um dos menores salários na América Latina.

País

Salário mínimo 2022 (em dólares)

Costa Rica

603,00

Uruguai

540,00

Chile

475,00

Equador

450,00

Paraguai

349,00

Panamá

326,00

Honduras

316,00

Peru

269,00

Brasil

250,00

Argentina

190,00

Fonte: Valor Econômico, 16/01/23, p. 17


O Brasil tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina todavia tem também a maior concentração de renda, do que resulta um dos menores salários. O agravante é que quanto menor o salário, menor é a capacidade de consumo do mercado interno. Trabalhador tem uma propensão marginal de consumo (?C/?Y) maior que a classe de alta renda, que é mais poupadora. Logo, aumentos de renda do trabalhador se direcionam ao consumo aumentando o produto interno doméstico.

Mas quais são os fatores que determinam a remuneração do trabalhador? A produtividade média do trabalhador, ou seja, quanto mais produtivo, maior tende a ser sua demanda e remuneração no mercado.

Em linguagem da microeconomia, quando o produto marginal do trabalho (PmgW = ?Y/?W) foi maior que o custo marginal do trabalho (CmgW = ?CT/?W), a empresa tem estímulo em aumentar a contratação de trabalhadores.

Basicamente, o salário depende da produtividade do trabalhador, que por sua vez depende de sua qualificação individual/habilidades profissionais e do sistema educacional responsável por formatar a força de trabalho. Assim, operários do setor automotivo/indústria pesada tem remuneração maior que trabalhadores safristas na agricultura, que é uma atividade de baixa produtividade e pouco valor tecnológico.

De forma geral, quanto maior a oferta de mão de obra e quanto menor a demanda por trabalhadores, menor será a remuneração do trabalhador. Por isso, o filósofo Karl Marx dizia: "o maior inimigo do empregado é o desempregado", o chamado exército industrial de reserva que pode ser contratado quando houver escassez de mão de obra. A existência de sindicatos trabalhistas atuantes também contribui para negociar reajustes positivos com a classe patronal.

Muito também depende da vontade política dos governos. No período 2003/2016 o salário mínimo teve aumento real (acima da inflação) de 59%, enquanto que no período 2019/2022 não ocorreu aumento de salário real.

Uma alternativa é indexar o reajuste do salário mínimo à inflação do período anterior ou ao crescimento do PIB de forma a preservar o poder de compra do salário. Ou seja, salário real = (salário nominal/inflação).

É inadmissível que o maior PIB da América do Sul pague um dos menores salários à classe trabalhadora. Isto não é desenvolvimento social. Pelo contrário, é até inconstitucional, comprometendo a dignidade e autoestima do trabalhador.​

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